Rememorando a minha
infância explosiva
Na primeira parte, contei a
vocês sobre Spike, meu fiel escudeiro que ajudava a colocar em prática minhas
artimanhas, creio que se o destino não tivesse nos separado teríamos dominado o
mundo antes que Pink e Cérebro conseguissem sair do laboratório. Se você não
tiver lido ainda, pode acessar clicando aqui, ou simplesmente prosseguir a
leitura.
Bom, mas vamos lá: nas
cidades do interior, as pessoas tem o hábito de trabalhar em casa fazendo
“bico” pra tirar uma renda a mais no fim do mês. Dentro dessa onda de trabalho
em casa, estava os estalos, ou melhor dizendo: as populares BOMBINHAS, fogos de
São João.
Na época, praticamente
metade da moçada de 12 a 17 anos fazia bombinhas e aí morava o perigo: a galera
levava pra dentro de casa uma areia explosiva para confeccioná-las, trocando em
miúdos, essa bombinha era um pouco de “pólvora” embrulhada em pedaços de papel.
Bom, eu e Spike começamos a
observar que minha irmã, fazedora de bombinhas por excelência, corria perigo e
ameaçava a segurança do meu lar, afinal, a mente de uma criança ao ver uma
areia explosiva, logo imagina que ela pode explodir não só sua casa, mas
produzir uma espécie de Big Bang Mineiro para acabar com toda a vida no planeta.
Profundo, não?
E para salvar o mundo, eu e
Spike entramos no cômodo onde ficava a areia e topamos com uns 6 pacotes encostados
na parede. Só de estar ali o calor era insuportável, peço licença poética e
higiênica para confessar que suávamos que nem suíno na fornalha, mas a missão
de desarmar a bomba e salvar a humanidade era mais alta do que qualquer
temperatura.
Spike se assustou com tanta
“dinamite” no lugar e me disse em tom bem coloquial: - Fica na entrada vigiando
para ninguém ver eu vou jogar a areia no chão. E eu logo pergunto: - Por que
jogar no chão? – E recebo a resposta: - É assim que se desarma nos filmes da
tv. Balancei a cabeça concordando e fui para a porta vigiar alguma possível
ameaça, Spike esvaziou 2 pacotes e olha que eram pacotes bem pesados, mas
quando ele pegou o terceiro, o calor falou mais alto e de repente eu ouço
aquele barulho sutil que precede uma explosão, uma espécie de “trisssssss....”
e daí o destino sacana conta 3,2,1 e surge um KABOOM. Pra explicar a minha
emoção naquele momento, precisaria usar todos aqueles balões de história em
quadrinhos que aparecem quando um estouro acontece.
Assim que eu percebi que a
areia tinha explodido justamente no rosto do Spike, percebi que a pele dele que
antes era mais branca que a neve, estava negra como a noite, como se a explosão
tivesse pintado sua cara feito canetinha em folha A4. Meu desespero foi enorme,
vi Spike de cara queimada, o cômodo cheio de uma fumaça acinzentada e só
conseguia gritar uma palavra mágica que ecoou por todo o universo: -
MÃAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAE! Eu gritava, pulava,
berrava tanto que eu fiquei sem voz por uns momentos. Por sorte e ironia do
destino, quando minha mãe chegou e se inteirou da situação, Spike estava bem,
foi só o susto, o garoto estava no banheiro lavando o rosto e se enxugando, não
aconteceu nada com ele a não ser uma história engraçada que com certeza vamos contar para nossos netos da mesma forma que estou compartilhando com vocês agora.
E o engraçado é poder analisar
o papel das mães na vida criança, de certa forma elas representam super-heróis, ou
no feminino: super-heroínas. Mãe: verdadeira palavra mágica que a gente usa
quando está em apuros e espera que elas mudem o mundo e tragam de volta a paz
perdida. No maior estilo Chapolim Colorado: - E agora, quem poderá nos ajudar?
E dessa história toda só
aprendi uma coisa: se vai desarmar uma bomba, corte o fio vermelho, mas não
tente despejar areia explosiva em uma superfície quente.
Se você gostou da crônica,
creio que vá se interessar também nessa outra que muita gente gostou e deu "pano pra manga":
A qualquer momento volto com
o meu “plantão” ou com o jardim inteiro mesmo, trazendo mais histórias.